sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

PASCHOAL CARLOS MAGNO

O homem que transformou o teatro brasileiro
Imagine transformar a própria casa em Teatro para laboratório de experimentações teatrais... imagine transformar uma fazenda de café em cidade teatral... imagine realizar uma CARAVANA CULTURAL em 1964, em plena Ditadura Militar... imagine vender preciosidades e objetos pessoais para garantir a existência de um Centro Cultural... pois isso é um pouco do muito de Paschoal Carlos Magno, um dos maiores nomes da história do nosso teatro. Carioca, fez de seu casarão em Santa Teresa, no Rio, uma usina de talentos, transformando-a no Teatro Duse, palco da efervescência teatral, onde se reuniam novos dramaturgos, atores e diretores. A inspiração veio da infância, como um reflexo do seu pai, que havia armado em uma das salas sua casa o “Teatrinho de Arlequim”, para os filhos e os empregados. Ali Paschoal começou cedo, pois os textos encenados eram seus. Atualmente A Casa de Paschoal serve como hospedagem a grupos e artistas que se apresentam no Rio de Janeiro. Paschoal Carlos Magno foi o “pai” de uma enorme gama de talentos como Glauce Rocha, Cacilda Becker, Sérgio Cardoso, Tereza Rachel, Othon Bastos, Agildo Ribeiro a até Ariano Suassuna, que só pôde mostrar sua obra por conta do bravo Paschoal. No Teatro Duse, afinal, havia uma regra: sempre se encenavam autores nacionais. Deu vida ao projeto CARAVANA CULTURAL, levando a arte dramática aos quatro cantos do país, fomentando o aparecimento de inúmeros grupos de teatro amador. Por causa de Paschoal surgiram o Teatro Experimental de Ópera, o Conjunto Coreográfico Brasileiro, o Coral Bach, o Teatro Experimental do Negro, os grandes festivais estudantis e até o Oficina (de quem foi 'padrinho'). Fundou em 1938 o Teatro do Estudante do Brasil, apresentando "Romeu e Julieta" de Shakespeare. Segundo ele, "Enquanto houver Shakespeare, o teatro não morrerá no mundo.” Sua perseverança fizeram dele o condutor do teatro brasileiro rumo a uma constante evolução: impôs a presença de um diretor, responsável pela unidade artística do espetáculo; acabou com o "ponto"; valorizou a contribuição do cenarista e figurinista; exigiu melhoria de repertório e maior dignidade artística; iniciou a destruição do preconceito contra a profissão de teatro e impôs a fala brasileira nos palcos nacionais, onde até então imperava o sotaque lusitano. Em dezembro de 1965, enfim, realizou seu maior empreendimento: a inauguração da Aldeia de Arcozelo, transformando uma fazenda de café em complexo cultural com dormitórios, teatros, refeitórios e sala de música. Doada à Fundação João Pinheiro, criada e presidida por Paschoal, a aldeia, destinada a ser ao mesmo tempo Centro de Repouso para artistas de todas as artes e também um colégio de arte no qual figurariam escolas de teatro, música, dança e artes plásticas. No ano seguinte, Paschoal começa a vender peças de raro valor de sua casa-teatro-museu em Santa Tereza para pagar as contas de Arcozelo, já que não contava com apoio do governo ou de empresários. Incansável na manutenção da Aldeia, mobilizou todo o país em campanha, chegando a fazer anos depois um apelo no “Fantástico”, para que cada jovem desse 1 cruzeiro para salvar Arcozelo. Com muitos altos e baixos, a Aldeia continua cumprindo as metas e objetivos de seu criador: há 37 anos abriga os maiores encontros artísticos do país. Paschoal Carlos Magno morreu aos 74 anos em 24 de maio de 1980. Seu legado mais extraordinário foi no sentido de estimular o amor ao teatro nos jovens, apoiando todos aqueles que ao teatro se dedicassem.

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